Data atual: 13 de dezembro de 2025
A Nova Ordem Global de Pagamentos: BRICS e a Desdolarização Acelerada
O cenário financeiro global de 2025 é marcado por uma efervescência de transformações, impulsionadas por sanções econômicas, volatilidade cambial e uma busca incessante por diversificação de riscos. Nesse contexto, a evolução da infraestrutura de pagamentos transfronteiriços não é apenas uma conveniência, mas uma urgência estratégica. No centro dessa revolução, o bloco BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e seus recentes membros como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã) emerge como um protagonista, acelerando a implementação de sistemas de liquidação direta em moedas locais. Este movimento audacioso visa contornar a dependência histórica do dólar americano como intermediário, redefinindo as dinâmicas de poder no comércio e nas finanças internacionais.
Um dos documentos que baliza essa iniciativa é o "BRICS Economic Bulletin 2025", um relatório coordenado pelo Banco Central do Brasil que detalha a visão e os progressos do bloco em direção a uma arquitetura financeira mais multipolar. Para organizações que operam no comércio internacional, especialmente aquelas engajadas com os países-membros do BRICS, essa transição exige uma atenção estratégica imediata em áreas como tecnologia, conformidade regulatória (compliance) e reestruturação de modelos operacionais. A não adaptação pode significar perda de competitividade e oportunidades.
Ticiana Amorim, fundadora da Aarin Tech-fin e voz influente no setor, sintetiza a magnitude dessa mudança: "Quando as liquidações começam a acontecer em moedas locais, o que muda não é só o meio de pagamento, é a lógica de poder nas transações." Sua análise ressalta que estamos diante de uma virada estrutural que transcende a mera otimização de processos, adentrando o campo da soberania econômica e da reconfiguração geopolítica.
O Impulso Estratégico por Trás da Mudança
A motivação para essa guinada é multifacetada e profundamente enraizada nas necessidades econômicas e geopolíticas dos países do BRICS. Três vetores principais se destacam:
Eficiência, Custo e Independência Financeira
A dependência do dólar americano como moeda de reserva e de liquidação global impõe uma série de custos e vulnerabilidades. Operar em moedas locais, ao eliminar a necessidade de conversão para o dólar, pode significativamente reduzir as taxas de câmbio, mitigar os riscos associados à volatilidade da moeda americana e diminuir o tempo de liquidação das transações. Para empresas, isso se traduz em maior previsibilidade financeira e menor exposição a flutuações cambiais desfavoráveis. Além disso, a capacidade de conduzir o comércio em suas próprias moedas fortalece a autonomia financeira dos países, reduzindo a alavancagem de potências externas que podem usar o sistema financeiro como ferramenta de pressão política. A busca por um sistema mais resiliente e menos suscetível a choques externos ou sanções unilaterais é um pilar fundamental dessa estratégia.
Desafios de Infraestrutura e Harmonização Regulatória
A transição para um sistema de pagamentos transfronteiriços baseado em moedas locais não é isenta de complexidades. A interoperabilidade entre os diversos sistemas financeiros nacionais dos países do BRICS é um desafio técnico e regulatório colossal. Isso envolve a adoção de novos mecanismos de mensagens financeiras, a padronização de protocolos de comunicação e a criação de plataformas que possam processar transações de forma segura e eficiente através de diferentes jurisdições.
A harmonização regulatória é outro ponto crítico. Cada país possui suas próprias leis de combate à lavagem de dinheiro (AML), financiamento ao terrorismo (CFT) e proteção de dados. Alinhar essas regulamentações, garantindo a conformidade e a segurança das transações, exige um esforço diplomático e técnico contínuo. A construção de uma infraestrutura robusta e confiável que possa suportar o volume e a complexidade do comércio internacional é essencial para o sucesso dessa iniciativa. Projetos como o "BRICS Pay" e a exploração de plataformas multi-CBDC (Moedas Digitais de Banco Central) são exemplos de esforços para superar esses obstáculos.
A Visão de Especialistas e o Impacto no Mercado
A perspectiva de Ticiana Amorim sobre a mudança na "lógica de poder" é um alerta para empresas e governos. Não se trata apenas de uma alteração técnica, mas de uma reconfiguração profunda das relações econômicas globais. Para as organizações brasileiras que integram cadeias de valor globais ou que mantêm relações comerciais com os países do BRICS, a mensagem é clara: a preparação é inadiável.
Isso implica uma revisão minuciosa dos sistemas internos de liquidação, a avaliação estratégica de parceiros internacionais que já operam ou estão dispostos a operar em moedas locais, o ajuste dos programas de compliance para se adequar às novas redes de pagamento e o alinhamento da governança financeira com essa arquitetura em construção. A capacidade de se adaptar rapidamente a esses novos paradigmas será um diferencial competitivo crucial.
A Aarin Tech-fin, parte do grupo Bradesco, exemplifica a inovação necessária nesse cenário. Ao fornecer serviços que integram a experiência financeira ao usuário, a fintech capacita empresas a oferecerem seus próprios serviços financeiros, facilitando a adaptação a um ecossistema de pagamentos em evolução. "Esse movimento dos BRICS abre espaço para empresas repensarem seus modelos operacionais. Não é uma decisão técnica isolada: envolve governança, relacionamento com parceiros internacionais e novas competências financeiras", complementa Ticiana, reforçando a natureza abrangente da transformação.
Criptoativos no Coração da Nova Arquitetura de Pagamentos
A discussão sobre a desdolarização e a criação de novas rotas de pagamento naturalmente converge para o universo dos ativos digitais. Em setembro de 2025, um Fórum do BRICS realizado no Brasil não apenas reforçou a intenção de intensificar o comércio direto entre os membros, mas também colocou em pauta a possibilidade de utilizar **stablecoins** para facilitar essas transações, eliminando a necessidade do dólar.
Stablecoins: A Ponte para o Comércio Direto
Stablecoins são criptomoedas cujo valor é atrelado a um ativo estável, como uma moeda fiduciária (ex: real, yuan, rublo) ou uma cesta de commodities. No contexto do BRICS, a utilização de stablecoins lastreadas nas moedas dos países-membros ou em uma cesta de moedas do bloco poderia oferecer uma solução eficiente para pagamentos transfronteiriços. Elas combinam a velocidade e a eficiência da tecnologia blockchain com a estabilidade de valor, superando a volatilidade inerente a criptomoedas como o Bitcoin.
Imagine uma stablecoin lastreada no yuan digital ou no real digital, que poderia ser usada para liquidar transações entre um exportador brasileiro e um importador chinês. Isso reduziria os custos de conversão, aceleraria o processo de liquidação e diminuiria a dependência de intermediários financeiros tradicionais. Além disso, a transparência e a imutabilidade do registro em blockchain poderiam aumentar a confiança e a rastreabilidade das operações. A exploração de Moedas Digitais de Banco Central (CBDCs) pelos países do BRICS, como o DCEP chinês e o Real Digital brasileiro, é um caminho paralelo e complementar que visa modernizar a infraestrutura de pagamentos e fortalecer a soberania monetária.
Blockchain e a Inovação nos Pagamentos Transfronteiriços
A tecnologia blockchain, que sustenta as criptomoedas e stablecoins, é a espinha dorsal dessa inovação financeira. Sua capacidade de criar registros distribuídos, imutáveis e transparentes oferece um novo paradigma para os pagamentos internacionais. Além das stablecoins, a blockchain pode ser utilizada para desenvolver novas redes de pagamento que operam 24 horas por dia, 7 dias por semana, com custos de transação significativamente menores do que os sistemas legados.
A segurança criptográfica da blockchain minimiza riscos de fraude e manipulação, enquanto a automação via contratos inteligentes (smart contracts) pode agilizar processos de conformidade e liquidação. A inovação financeira promovida pela blockchain não se restringe apenas à velocidade e custo, mas também à criação de um ecossistema mais inclusivo e acessível, onde pequenas e médias empresas podem participar do comércio internacional com menos barreiras.
Reações Globais e o Cenário Geopolítico
A crescente união do BRICS em torno da desdolarização e da exploração de alternativas de pagamento não passou despercebida no cenário global. O movimento tem sido alvo de críticas e preocupações, especialmente por parte de potências que se beneficiam da hegemonia do dólar. O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que




