A Evolução dos Tesouros de Ativos Digitais e o Futuro do Bitcoin
Introdução
Os Tesouros de Ativos Digitais (DATs) emergiram como uma tendência significativa durante o último ciclo de alta do mercado de criptomoedas. A estratégia fundamental por trás deles era a de que manter Bitcoin (BTC) no balanço patrimonial poderia gerar valor por si só. Durante esse período, muitas empresas conseguiram obter prêmios substanciais no mercado simplesmente por acumular BTC mais rapidamente do que seus concorrentes. Porém, à medida que as avaliações se normalizam e os valores dos ativos líquidos (NAVs) se ajustam, os DATs estão percebendo que a exposição passiva pode não ser mais suficiente.
A Mudança de Perspectiva
De acordo com Matt Luongo, cofundador e CEO da plataforma de finanças Bitcoin, Mezo, há uma compreensão coletiva emergente entre os DATs. "À medida que os NAVs começam a ser pressionados, muitos perceberam que não possuem uma vantagem sobre os outros na compra de Bitcoin — qualquer um pode fazer isso," comentou Luongo em uma entrevista ao CoinDesk. "Agora, eles precisam gerar rendimento e implementar estratégias que o varejo ainda não conhece."
A Nova Realidade dos DATs
Os DATs, que se destacaram no mercado público, agora enfrentam um novo cenário. Os investidores estão cada vez mais exigindo desempenho operacional e geração de receita, além da simples valorização do BTC. Empresas que antes eram referência em estratégias de Bitcoin também estão sentindo essa pressão crescente. O argumento de que apenas manter Bitcoin não é mais um modelo de negócios sustentável ganhou força. Brian Mahoney, cofundador da Mezo, acrescenta que os DATs enfrentam limitações narrativas. "Essas empresas desejam os rendimentos disponíveis em ecossistemas como Ethereum ou Solana, mas não podem ir até lá," disse ele. "Isso violaria a história que contaram aos acionistas. Não é possível afirmar que se é um tesouro nativo de Bitcoin enquanto se obtém rendimento de staking de Ether (ETH)."
A Nova Pergunta Institucional: O Que o Bitcoin Pode Fazer?
A Anchorage Digital, um banco de criptomoedas regulamentado que atende instituições, está percebendo uma mudança nas perguntas que seus clientes têm feito. "Se tudo o que você quer é exposição ao preço, há muitas maneiras de conseguir isso," afirmou Nathan McCauley, CEO da Anchorage Digital. "No entanto, as instituições estão cada vez mais buscando tornar seus Bitcoins produtivos — seja para ganhar recompensas, desbloquear liquidez ou servir como colateral. Elas querem uma infraestrutura que permita uma interação direta e segura com a economia Bitcoin, em total conformidade."
Tornando o Bitcoin Produtivo
Por meio da carteira de autocustódia da Anchorage, chamada Porto, os clientes podem bloquear BTC para ganhar recompensas em cadeia ou tomar empréstimos contra suas participações. "Estamos permitindo que as instituições utilizem Bitcoin sem precisar vendê-lo, sem se mover para ambientes não regulamentados e sem comprometer a custódia," disse McCauley. O crescimento do BTCFi — que passou de cerca de US$ 200 milhões em valor total bloqueado em outubro passado para um pico de aproximadamente US$ 9 bilhões no início de outubro — reflete o crescente interesse. No entanto, McCauley observa que isso ainda representa "uma gota no oceano" em comparação com o total de suprimentos de Bitcoin.
Padrões de Adoção Inicial
McCauley observa três categorias de instituições que estão surgindo como adotantes precoces: fundos de hedge e empresas de múltiplas estratégias em busca de rendimento direcional; gestores de ativos e DATs com reservas significativas de BTC; e fundos nativos de criptomoedas que desejam acesso ao BTCFi sem precisar construir sua própria infraestrutura. Entre esses grupos, ele identifica demandas consistentes: "economia previsível, mecânicas de colateral claras e riscos totalmente explicáveis." A primeira oferta através do Porto — empréstimos contra BTC a uma taxa fixa na Mezo — se encaixa nesse perfil, com staking previsto para seguir.
O Ponto de Inflexão
Os próximos 12 a 24 meses podem marcar uma aceleração significativa na participação do BTCFi, caso várias peças estruturais se encaixem. "O ponto de inflexão chega quando a complexidade desaparece," afirma McCauley. "Quando as instituições puderem ativar seus Bitcoins através de fluxos de custódia, conformidade e liquidação familiares, em vez de construir sistemas paralelos." Ele identifica três fatores principais que impulsionam a escala: clareza regulatória, integração de custódia e estruturas de risco que se alinham ao pensamento institucional. "Quando essas peças se alinharem," disse ele, "é fácil imaginar dezenas de bilhões de BTC institucionais se movendo de uma posse passiva para uma implantação produtiva."
A Pressão Competitiva
Luongo acredita que essa mudança já está acontecendo nos bastidores. Conversas com CEOs do setor refletem uma urgência não motivada apenas pelo preço, mas pela pressão competitiva. "Grandes bancos que pensávamos que se moveriam lentamente estão entrando em um período de seis a dezoito meses," afirmou ele. "Nos bastidores, negócios estão acontecendo rapidamente."
Mahoney aponta para a convergência das fintechs como outro acelerador desse movimento: as interfaces de finanças tradicionais se conectando a sistemas tokenizados, permitindo que os usuários interajam com criptomoedas sem perceber. Uma nova parceria entre Anchorage Digital e Mezo oferece às instituições um caminho para o BTCFi. Através do Porto, as instituições agora podem tomar empréstimos contra seu BTC utilizando o stablecoin MUSD da Mezo, com taxas fixas a partir de 1%. O empréstimo via MUSD já está ativo, enquanto as recompensas veBTC serão lançadas em breve nas plataformas Porto e Anchorage.
Conclusão
A dinâmica do mercado de ativos digitais está evoluindo rapidamente, e os DATs precisam se adaptar a essa nova realidade. A transição de uma abordagem passiva para uma estratégia mais ativa e produtiva é essencial para a sustentabilidade e crescimento das empresas que buscam se estabelecer no setor de criptomoedas. Com a pressão crescente dos investidores e as mudanças nas necessidades institucionais, o futuro dos Tesouros de Ativos Digitais será definido pela capacidade de inovação e adaptação das empresas.
