Criptomoedas na Venezuela: Um Pilar Essencial em Meio à Crise e Sanções (Dezembro de 2025)
**Caracas, Venezuela – 11 de dezembro de 2025** – Em um cenário de isolamento econômico persistente e sanções internacionais rigorosas, a Venezuela solidificou sua posição como um dos países mais dependentes das criptomoedas. O que começou como uma alternativa marginal para poucos, transformou-se em um pilar essencial para a economia e o cotidiano de milhões de venezuelanos, à medida que a nação busca navegar por um labirinto de restrições financeiras e uma moeda nacional fragilizada.
Quase uma década de colapso econômico, hiperinflação e sanções agressivas por parte dos Estados Unidos e seus aliados forçou a população e, em certa medida, o próprio Estado, a buscar soluções fora do sistema financeiro tradicional. Nesse vácuo, as criptomoedas emergiram como uma ferramenta indispensável, com a stablecoin USDT da Tether desempenhando um papel central na manutenção de um mínimo de estabilidade econômica e na facilitação de transações.
Um relatório recente de especialistas em inteligência de blockchain sublinha a dualidade dessa dependência: enquanto as criptomoedas oferecem um alívio humanitário crucial para uma população desprovida de alternativas financeiras estáveis, elas também levantam sérias preocupações sobre a potencial evasão de sanções internacionais.
A Ascensão das Criptomoedas como Refúgio Econômico
A história da Venezuela com as criptomoedas é intrinsecamente ligada à sua crise econômica. O bolívar soberano, a moeda nacional, tem sido devastado por anos de hiperinflação, corroendo o poder de compra e a confiança da população. Em um país onde os serviços bancários tradicionais são limitados e as remessas internacionais são dificultadas pelas sanções, os ativos digitais oferecem uma alternativa vital.
**Remessas e Comércio:** Milhões de venezuelanos que emigraram para outros países utilizam criptomoedas para enviar dinheiro de volta para suas famílias, contornando as altas taxas e a burocracia dos métodos tradicionais. Internamente, comerciantes e consumidores recorrem às criptomoedas para transações diárias, protegendo-se da volatilidade do bolívar. A estabilidade do USDT, atrelado ao dólar americano, o tornou a escolha preferencial para preservar valor e realizar pagamentos.
**Preservação de Valor:** Em um ambiente onde as poupanças em moeda fiduciária são constantemente erodidas, as criptomoedas, especialmente as stablecoins, oferecem um porto seguro. A facilidade de acesso, mesmo com infraestrutura limitada, e a natureza descentralizada do Bitcoin e outras criptos, ressoam com uma população que perdeu a fé nas instituições financeiras estatais.
O Dilema da Evasão de Sanções: Uma Faca de Dois Gumes
A crescente dependência da Venezuela em criptomoedas, embora ajude a população, também apresenta um desafio significativo para as potências ocidentais. Especialistas como Ari Redbord, ex-funcionário do Tesouro dos EUA e chefe global de políticas da TRM Labs, caracterizam o impacto dos ativos digitais como uma "faca de dois gumes".
Por um lado, o impacto humanitário de fornecer ferramentas financeiras a uma população sem alternativas é inegável e, em muitos aspectos, louvável. Por outro lado, a mesma infraestrutura que permite a um cidadão comum comprar alimentos ou receber remessas, pode ser potencialmente utilizada por entidades estatais ou indivíduos sancionados para contornar as restrições financeiras impostas pela comunidade internacional.
A administração dos EUA e seus aliados têm intensificado a pressão sobre o governo venezuelano, e a capacidade de Caracas de acessar o sistema financeiro global tem sido severamente comprometida. Nesse contexto, a criptoeconomia não regulamentada da Venezuela se torna um vetor de preocupação, pois oferece caminhos para movimentar fundos e realizar transações que, de outra forma, seriam bloqueadas.
O Ecossistema Informal P2P e a Fragilidade Regulatória
A popularidade das plataformas informais de negociação ponto a ponto (P2P) é um testemunho da necessidade e da inventividade venezuelana. Essas plataformas permitem que os usuários troquem criptomoedas diretamente entre si, muitas vezes com requisitos mínimos de "Conheça Seu Cliente" (KYC) e operando fora do sistema bancário tradicional.
**O Poder do P2P:** A inteligência de blockchain revelou que um único site de negociação P2P foi responsável por uma parcela significativa do tráfego web relacionado a criptomoedas proveniente de endereços IP venezuelanos. Essa predominância ilustra a escala da atividade informal e a preferência por canais que ofereçam privacidade e facilidade de acesso. A combinação de negociação P2P, plataformas híbridas que ligam o sistema bancário nacional à liquidez offshore e fluxos transfronteiriços de stablecoins via múltiplas blockchains, cria um ambiente complexo e desafiador para a fiscalização de sanções.
**SUNACRIP e o Petro: Uma Tentativa Frustrada de Controle:** A Venezuela foi um dos primeiros países a tentar uma abordagem regulatória e até mesmo a lançar sua própria criptomoeda estatal. Em 2018, o governo introduziu o Petro, um token supostamente lastreado em reservas de petróleo e minerais, com a ambição de se tornar uma moeda nacional mais estável que o bolívar. No entanto, o Petro foi cercado por controvérsias desde o seu lançamento, sendo visto por muitos como uma ferramenta para evadir sanções e por outros como um projeto mal gerido e opaco.
Após anos de uso limitado, acusações de corrupção e desconfiança generalizada, o Petro foi oficialmente descontinuado em 2024. Este fracasso sublinha a dificuldade de impor uma criptomoeda estatal em um ambiente de desconfiança e a preferência da população por ativos digitais descentralizados e de mercado.
A Superintendência Nacional de Criptoativos e Atividades Conexas (SUNACRIP), o órgão regulador de criptomoedas da Venezuela, também tem enfrentado seus próprios desafios. A agência foi abalada por escândalos de corrupção e processos de reestruturação que enfraqueceram sua capacidade de supervisionar e controlar a economia de ativos digitais do país. A ineficácia da SUNACRIP e o colapso do Petro reforçam a natureza descentralizada e, em grande parte, não regulamentada da adoção de criptomoedas na Venezuela.
Perspectivas para 2025 e Além
Em dezembro de 2025, a situação geopolítica em torno da Venezuela permanece tensa. A administração dos EUA e seus aliados continuam a aplicar pressão, buscando uma mudança política e econômica. Neste cenário, as criptomoedas continuarão a ser um ponto focal, tanto como um mecanismo de resiliência para a população quanto como uma preocupação para os formuladores de políticas internacionais.
O desafio para a comunidade global é encontrar um equilíbrio. Como apoiar o uso humanitário das criptomoedas para aliviar o sofrimento de uma população, ao mesmo tempo em que se impede seu uso para atividades ilícitas ou evasão de sanções? A resposta provavelmente reside em uma combinação de maior inteligência de blockchain para rastrear fluxos de fundos, colaboração internacional para desenvolver estruturas regulatórias e, talvez, a reavaliação das próprias sanções para garantir que atinjam os alvos pretendidos sem causar danos excessivos à população civil.
A experiência venezuelana é um estudo de caso complexo e multifacetado sobre o poder transformador das criptomoedas em cenários de crise. Ela demonstra a capacidade desses ativos de preencher lacunas financeiras em economias colapsadas, mas também ressalta os desafios inerentes à regulação e à fiscalização em um mundo cada vez mais digitalizado. O futuro da Venezuela, e sua relação com as criptomoedas, continuará a ser um termômetro para as tensões entre soberania nacional, sanções globais e a inovação financeira descentralizada.
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