21 de Dezembro de 2025: O Legado Cripto de Trump e a Urgência da Consolidação do Setor
À medida que nos aproximamos do final de 2025, o cenário global de finanças digitais continua em efervescência, impulsionado por inovações e, paradoxalmente, por tensões políticas. A figura de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, permanece um ponto focal de discussão no universo cripto. Embora sua administração tenha sido, em certos aspectos, um catalisador para a inovação financeira, sua notória proximidade com empreendimentos cripto de sua família gerou um debate acalorado sobre conflitos de interesse, politizando uma indústria que busca reconhecimento como infraestrutura crítica. Este artigo explora a complexa relação entre política e cripto, e a corrida do setor para se consolidar antes de futuras transições de poder.
A Era Trump e a Criptoeconomia: Um Legado Ambíguo
A gestão de Donald Trump, especialmente em seu primeiro mandato, foi frequentemente rotulada como favorável ao desenvolvimento das criptomoedas. Essa percepção surgiu da aprovação de legislações e de um ambiente que, em contraste com algumas abordagens mais restritivas, parecia abrir portas para a inovação. No entanto, o entusiasmo foi temperado por preocupações crescentes sobre o envolvimento pessoal da família Trump em negócios cripto, levantando questões éticas e de transparência que, para muitos observadores, dificultaram um progresso mais orgânico e despolitizado do setor.
Regulação em Destaque: A Lei GENIUS e o Cenário Político
Um dos marcos legislativos mais significativos durante o período em que Trump esteve na presidência, e que reverberou até o presente momento em 2025, foi a sanção da Lei GENIUS em julho. Esta legislação representou uma vitória histórica para o setor de criptomoedas, ao estabelecer uma estrutura legal para a emissão de stablecoins – ativos digitais atrelados a moedas fiduciárias, como o dólar. A criação de um arcabouço regulatório claro para stablecoins é crucial para a estabilidade e a adoção massiva das criptomoedas, pois oferece maior segurança jurídica e previsibilidade para investidores e desenvolvedores.
Contudo, o caminho para a aprovação da Lei GENIUS foi tortuoso e marcado por intensa polarização. Democratas, em particular, expressaram forte indignação com os supostos conflitos de interesse de Trump. Em um momento de protesto, membros democratas da Câmara chegaram a abandonar uma audiência sobre ativos digitais, exigindo a inclusão de uma cláusula na Lei GENIUS que impediria o presidente de se envolver em empreendimentos pessoais com criptomoedas enquanto estivesse no cargo. Essa tensão sublinhou como a política partidária pode influenciar diretamente o ritmo e a forma da regulação cripto.
Conflitos de Interesse e a Politização das Criptomoedas
Os receios de conflito de interesse não eram infundados. Durante seu período na política, Donald Trump lançou uma moeda digital com licença oficial poucos dias antes de sua posse em janeiro, e sua então primeira-dama, Melania Trump, seguiu o exemplo logo depois. Eventos como um jantar oferecido por Trump aos maiores detentores de sua moeda digital geraram manchetes e protestos, com senadores classificando-o como uma "orgia de corrupção".
Além disso, o próprio presidente Trump e seus três filhos foram cofundadores da World Liberty Financial, uma empresa que emitiu uma stablecoin atrelada ao dólar e planejava lançar outros produtos cripto. Eric Trump, um dos filhos, chegou a confirmar em outubro que a família já havia lucrado mais de US$ 1 bilhão com esses empreendimentos. Tais declarações, embora demonstrassem o potencial de lucro no setor, também alimentaram a narrativa de que o interesse pessoal estava se sobrepondo ao interesse público na formulação de políticas.
Essa agitação política teve um impacto tangível nos esforços para avançar a regulação. Vivek Raman, cofundador e CEO da Etherealize – uma empresa de marketing institucional focada em cripto – testemunhou perante o Congresso sobre a Lei CLARITY. Ele observou que a atenção dos legisladores estava frequentemente desviada dos méritos da legislação para as preocupações com os conflitos de interesse de Trump. Danny Ryan, cofundador da Etherealize e ex-desenvolvedor do Ethereum, corroborou essa percepção, afirmando que os conflitos de interesse "não ajudam a causa" e criaram um ambiente onde até mesmo perguntas válidas eram feitas com hesitação, dada a sensibilidade política.
A Urgência da Consolidação: Tornando Cripto uma Infraestrutura Crítica
Diante desse cenário politizado, a indústria de criptomoedas enfrenta um desafio premente: solidificar sua posição e demonstrar seu valor fundamental antes de futuras transições de poder. A preocupação é que uma nova administração, ou mesmo uma mudança de prioridades na atual, possa buscar reverter políticas ou punir o setor como dano colateral de ações relacionadas a figuras políticas.
A Visão de Danny Ryan e a Etherealize
Danny Ryan, que considerou abandonar o mundo cripto após ser notificado pela SEC enquanto ainda estava na Fundação Ethereum, viu o lançamento da criptomoeda meme de Trump como um sinal de que o pêndulo havia oscilado fortemente a favor das criptomoedas. Isso o motivou a se juntar à Etherealize, uma empresa dedicada a ajudar instituições financeiras tradicionais a ingressarem no universo cripto.
A tese central de Ryan é que o setor precisa agir rapidamente para se tornar indispensável. "Se, durante esse período, conseguirmos atrair significativamente instituições financeiras, capital global e mercados de capitais, não haverá mais essa discussão binária de: Deveria existir? Não deveria?", explicou Ryan. A meta é alcançar uma posição onde o valor fundamental das criptomoedas seja inegável, transformando-as em "infraestrutura crítica".
A Janela de Oportunidade: Atração de Capital Institucional
A janela de oportunidade é agora. Ao integrar-se profundamente aos mercados financeiros globais, o setor cripto pode "despolitizar" a questão, tornando-se uma ferramenta útil e valiosa, de forma análoga à internet. "Talvez seja como a internet. Tipo: 'Sim, não vamos nos livrar da internet — dependemos dela'", disse Ryan. A ideia é que, uma vez que as criptomoedas e a tecnologia blockchain se tornem tão entrelaçadas com a economia global que sua remoção seria impensável, a discussão se deslocará de "se devem existir" para "como devem ser usadas de forma responsável".
Isso implica um esforço coordenado para educar, inovar e, acima de tudo, atrair grandes volumes de capital institucional. A presença de fundos de pensão, bancos de investimento e corporações multinacionais no espaço cripto não apenas legitima a classe de ativos, mas também cria uma base de apoio robusta que dificilmente seria desmantelada por caprichos políticos.
Navegando o Pós-Trump: Resiliência e Adaptação
O cenário político é, por natureza, imprevisível. Embora a indústria cripto tenha demonstrado uma resiliência notável, a possibilidade de um governo pós-Trump querer reverter certas políticas ou até mesmo buscar punir o ex-presidente e suas ações-chave é uma preocupação real. Nesse contexto, o setor de criptomoedas poderia se tornar um dano colateral.
O Risco de Dano Colateral e a Esperança de "Aparar Arestas"
A esperança de Ryan e de muitos no setor é que, se as criptomoedas tiverem se provado valiosas o suficiente, nem todo o progresso será perdido em meio a uma possível mudança de rumo. A expectativa é que qualquer intervenção futura seja mais no sentido de "aparar algumas arestas" do que de "fazê-lo desaparecer completamente". Isso significa que, em vez de proibições radicais, poderíamos ver ajustes regulatórios, maior fiscalização ou a redefinição de certas categorias de ativos digitais.
A capacidade do Bitcoin hoje, e de outras criptomoedas, de manter sua relevância e valor de mercado, mesmo em face de incertezas regulatórias, é um testemunho da crescente adoção e confiança dos investidores. A inovação financeira continua a impulsionar o desenvolvimento de novas aplicações de blockchain, desde finanças descentralizadas (DeFi) até tokens não fungíveis (NFTs) e soluções de identidade digital, consolidando ainda mais a presença da tecnologia na economia global.
O Futuro Incerto da Regulação Cripto no Brasil e no Mundo
A dinâmica política nos EUA tem um peso considerável no mercado financeiro global e, consequentemente, na regulação cripto em outros países, incluindo o Brasil. Em 2025, o Brasil já avançou significativamente na sua própria estrutura regulatória, com a implementação de leis que buscam trazer clareza e segurança jurídica para o mercado de ativos virtuais. No entanto, as decisões tomadas por grandes economias como os EUA podem influenciar tendências regulatórias




